Move-se de forma descontrolada e espaçada, nem a música o acalma naquele momento. Procura tranquilizar-se, aproxima-se do último controlo de embarque. Nas mãos suadas e nervosas segura passaporte e cartão de embarque, observa a polícia como inimigos que precisa de exorcizar e afastar do pensamento. O seu pequeno troley não atrai as atenções de ninguém. Da angústia ao sentimento de vazio em poucos segundos. Suores frios invadem-no, a sua pequenez ficou bem espelhada ao ser ignorado pelos polícias. Quer dar um passo em frente, mas de novo hesita. Quer gritar e afugentar os fantasmas.
O seu futuro poderá estar resolvido em poucas horas, ou simplesmente tornar-se num inferno. Relembra imagens que o consomem, aquela tarde chuvosa, naquela esquina, naquele encontrão, naquela dor aguda que não o abandona, apesar da ferida física estar há muito sarada.
Alguém passa e olha para ele, não reconhece caras, os olhos vidrados, as pernas trémulas. Embarca pela porta 18 e tenta esboçar um sorriso ao passar pela rapariga que lhe recebe o cartão de embarque. Vai deixar para trás uma Lisboa que ama, que sente como sua, que floresce numa Primavera amena, mas que o despiu de sentimentos e vontades, desde aquele dia fatídico.
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