domingo, 23 de março de 2008

Bruxelas, 4 de Abril de 1990 (quarta-feira)

Agora que os dias começam a aumentar sinto que este desconforto de estar num local desconhecido começa a ceder a um sorriso. Nunca me tinha apercebido como o calor do sol na minha pele produz felicidade apenas por ele. E não falo das idas à Costa em que ficávamos ao sol até estarmos tão torrados quanto um frango assado.
Falo de um dia acordar de noite, triste... e no dia seguinte sorrir ao ver os primeiros raios de sol acordarem comigo. Falo de após aquela negação de mim mesmo e da minha existência a que chamo emprego, ainda ter várias horas de luz do sol para viver. Sol para andar... para ver o brilho dos seus sorrisos e de onde vêem os passos que escuto... Sol para ver o meu cabelo e pele brilharem, como se eu não fosse apenas mais um nesta capital fria.
Foi nestes dias que senti pela primeira vez saudades de Lisboa. Da sua pequenez... que permite que o sol toque os meus pés enquanto ando na rua... do tempo ameno em que o frio parece existir condicionado à noite.
Adeus aos pés frios enquanto caminho... Adeus ao vapor com que tentava fazer desenhos no céu quando saía para as ruas apenas iluminadas pelos pirilampos eléctricos, nas suas jaulas de vidro.
Talvez agora possa verdadeiramente apreciar esta capital longe de casa...

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