quinta-feira, 27 de março de 2008

Sem olhar para trás

Resolveu sair. Não podia continuar a vegetar em cima da cama, por muito luxuoso e high-class que aquele quarto de hotel fosse. Desceu ao Polo Bar e sentou-se num dos bancos altos junto ao comprido balcão, onde um empregado aguardava clientes enquanto limpava copos, algo normal, já que àquela hora a afluência ainda era fraca. Optou por um chardonnay, não podia continuar a beber vodka pois se Marie notasse um pequeno cheiro que fosse a alcool seria brindado com um enorme sermão o tempo todo do almoço.
Lembrou aquela cara tão sorridente e em que a boa disposição e espiríto positivo eram uma constante. Um belo e longo cabelo ruivo emoldurava um rosto de pele clara, onde pontuavam pequenas sardas na zona do nariz, mas em que um belo par de olhos verde esmeralda faziam as honras. Era impossível passar por aquela rapariga sem voltarmos a cabeça com assombro e admiração. E se estivesse com a bata de médica então, a surpresa era ainda maior, já que a sua aparência tão jovem em nada deixava adivinhar alguém já formado numa profissão tão exigente.
Marie tinha uma espírito humanitário e de solidariedade tais que não deixavam de espantar todos aqueles que a conheciam. Colaborava quase ininterruptamente com ONG's e organizações e projectos de ajuda humanitária. Desde que concluíra o curso de medicina, na sua Bruxelas natal, praticamente não parara de viajar, abraçando diversas causas, desde ajuda a refugiados em África a alertas por cuasa da caça às focas no Canadá. E era por isso que, agora, mais uma vez, voltava a Lhasa, no âmbito de uma deslocação da International Federation For Human Rights (IFHR), como observadora e para pressionar o governo chinês no sentido de parar com a violação de direitos humanos no Tibete. Espero que tudo corra bem, pensou, nos últimos tempos o clima naquela zona andava bem "quente".
Acabou a bebida, deu o número do quarto ao empregado para registar o que bebera e saiu do bar. Lá fora o sol tentava furar o nevoeiro que ainda se fazia sentir e soube-lhe bem inspirar profundamente aquele ar meio húmido, meio frio.
Enterrou as mãos nos bolsos do casaco e começou a andar na direcção de Grosvenor Square. Estava quase na hora do encontro com Marie no Maze.

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