domingo, 16 de março de 2008

Lisboa, 31 de Julho de 1982 (Sábado)

Começa hoje o Festival de Vilar de Mouros. E eu não estou lá. Mais que chateado, estou rancoroso, cheio de raiva por dentro! Raiva desta cama em que te escrevo... raiva desta caixa onde durante meses juntei notas de cem e quinhentos paus para poder ficar por lá... meses a trabalhar para poder ir! Imagina-me a mim a ouvir e a cantar e a dançar as músicas e os ideais dos meus LP´s... Os ideais e crenças de longe daqui.
Mas não... tive de ficar. Que sou muito nervoso para ficar sozinho. Que não são boas companhias. Que a viagem é longa... que a algazarra é muita.
Preso. Sinto-me preso. Quero ir para longe. Partir. Ficar por lá. Provar a todos que consigo tratar de mim sozinho. Que consigo lidar com os resultados dos meus actos e tomar as minhas decisões.
Os jovens são o futuro e tal... Que na altura da revolução não havia nada disto e que só fazem mal à juventude... Que no tempo deles se investia na liberdade e não na libertinagem. Só me apetece responder que se há futuro, não é certamente aqui, que certamente não é para mim.
Tenho a boca salgada novamente. E uma vez mais não é de um primeiro beijo.
Vou partir. Vou para longe. Contar comigo.

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