segunda-feira, 17 de março de 2008

Procurou no bolso os comprimidos para dormir que o deixavam absolutamente inconsciente. Não os tinha tomado durante o vôo porque sabia que eram só duas horas. Mas agora, que estava quase a aterrar, apetecia-lhe desligar o cérebro por um instante que fosse... Ao mexer no bolso reparou que tinha trazido a carta, a carta dela que tinha dado origem a tudo. Releu-a uma vez mais:

"Meu bom Peter, queria tanto escrever bonito para tornar mais fácil tudo o que tenho para te dizer. Há já uns dias que ando para te falar mas falta-me a voz. O melhor mesmo é deixar-me de rodeios e escrever. Já não se usa escrever cartas, pois não? Olha, acabou. Acabou, percebes? Acabou tudo! Não quero mais. Estou cansada de vivermos assim. Quero mais. Quero-te aqui. Ou talvez não te queira aqui e isso provavelmente significa que não te quero de todo. Quero o teu sorriso rasgado e os teus olhos brilhantes mas não quero o teu sarcasmo nem o teu desencanto com a vida. Quero as tuas mãos no meu corpo e os teus lábios no meu pescoço mas não quero as tuas lágrimas durante a noite nem o teu cansaço quando acordas. Ah, se eu soubesse o que quero... Se querer-te fosse fácil... Se, se... E no entanto quero-te. Por isso parto. Vou-me embora. Parto para Lhasa dentro de três dias. Não me sigas por favor. Deixa-me ir e querer-te ao longe. Deixa-me viver na distância o que não consigo partilhar. Deixa-me enlouquecer, esquecendo-te todos os dias um pedaço. Vive! Um beijo. Dos bons."

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