segunda-feira, 3 de março de 2008

Sem Espinhas

Capítulo 1
7 da manhã. Dia já claro e eis que ele sai do prédio alto, com paredes forradas a tijolo e canteiros nas pequenas varandas. Meio tonto e ensonado, ainda, após uma confusa noite, oscilante entre sonhos e pesadelos, tem, contudo, a certeza absoluta sobre aquilo que há a fazer. Não há volta a dar. Fez como a psiquiatra, que é já como que uma amiga, lhe disse. Pensou, repensou, pôs-se na pele deste e daquele, alterou este ou aquele pormenor, mas não, não há fuga possível, apenas aquela saída permitirá resolver o problema. O que, não o deixando descansado, pelo menos, pela inexorabilidade, o faz sentir menos culpado e mais uma vítima das circunstâncias. Do mal o menos, há forças maiores do que nós, pensa para consigo.

Bastaram umas poucas semanas para ver a sua vida virada do avesso. Nunca pensou que um mero atraso para um encontro com uma amiga pudesse ter consequências tais. Mas naquela tarde chuvosa, naquela esquina, naquele encontrão, estava traçado o seu destino.

Enquanto caminha em direcção ao local onde estão estacionados os táxis, aproveita para inspirar profundamente e absorver o ar límpido da manhã de quase Primavera. Aproveita para rever o plano que delineara na véspera. Nada poderia falhar, caso contrário tudo estaria irremediavelmente perdido. E não haveria sequer segunda oportunidade, pelo que toda a cautela não seria de mais.

- Para o aeroporto, se faz favor, zona das partidas – diz ao taxista jovem que lhe abre a bagageira, onde deposita o pequeno troley onde descansam as poucas roupas de que precisará para a curta ausência que se aproxima.

Evitando a conversa de circunstância típica, liga o iPod e sintoniza uma música calma, procurando também relaxar um pouco. Precisa de estar calmo, não quer parecer nervoso nem levantar suspeitas quando passar pela polícia. Isso poderia deitar tudo a perder e é um luxo ao qual ele não se pode dar.

15 minutos depois está a pagar a corrida e a dirigir-se para os balcões de check-in. Benditos cartões acumulados, que um ou outro, lhe permitem maior conforto. Check-in pela Business Class, pequeno-almoço e espera pelo voo no VIP lounge. Menos encontrões, mais sossego e tranquilidade. Uma vez mais, tudo revê, mentalmente.

Olha para o televisor colocado alto num canto do lounge, que regista já a porta de embarque do seu voo. Às 08h15m começará o embarque. Um regresso a Londres que preferia que fosse noutras circunstâncias.

2 comentários:

Aequillibrium disse...

Começam muito bem!

Tem já um toque muito moderno, desperta a curiosidade e é imprevisível a sequência que vai ter.

Podem contar com um leitor assíduo.

=)

Anónimo disse...

Parabéns ! Para já gostei !
Continua, pois fiquei curioso ...